sábado, 13 de novembro de 2010

Determinação.

Me chamo Gulia, tenho 32 anos, promotora.
Nasci numa família pobre, morávamos numa favela muito "temida", por suas histórias e lendas...
Quando eu tinha 6 anos, perdi meu pai.
Aliás, pai no sentido biológico, porque nunca foi presente na minha vida, minha mãe teve que fazer o papel de "mãe-pai" na família. Completei 9 anos, e tive que começar a trabalhar para ajudar em casa, minha mãe acabara de ficar desempregada, e o máximo que conseguia, era um "bico" de babá ou de doméstica, e o que conseguia ao final do mês não passava de uns 200 reais.
Minha mãe pediu que eu entrasse na escola não com fins "educacionais", mas por ganhar um dinheiro extra de um programa do governo (tadinha, também não a culpo de não saber o que era educação, até porque ela é analfabeta, e o máximo que sabe fazer é escrever o próprio nome).
Só que com essa oportunidade de estar na escola, comecei a me interessar pelos estudos, e o que mais me alegrava era a facilidade de assimilação que eu tinha em sala de aula, pois eu não tinha tempo para estudar em casa, e o que me restava era aprender no colégio...
Passaram-se 6 anos, e eu estava na 7 série, bem atrasada nos estudos, mas como eu tivera começado atrasada, não estava me "martirizando" por algo que não tinha mais jeito. Minha professora me deu a conclusão do Ensino Fundamental na 7 série por um ótimo rendimento escolar.
Terminei o meu 3º ano do Esino Médio com 19 anos, e pensei (infelizmente só pensei) em cursar uma faculdade, mas meu destino naquele momento não era esse...
Minha mãe adoeceu, e tive que cuidar dela por 1 ano e meio até que sua saúde tivesse melhorado, então retomei a vontade de cursar uma faculdade. Faculdade? Mas de que? Eu não tinha muitas informações sobre o Ensino Superior, e decidi pesquisar.
Depois de muito tempo na biblioteca estadual vi de longe, um livro muito grande, de capa vermelha, na seção de Direito - Direito Social, peguei-o mas não entendi muito, pois era de uma linguagem mas específica para quem cursava direito, fui até uma "lan-house", em um site de pesquisa descobri que Direito Social é um ramo na área de Direito que "
têm por objetivo garantir aos indivíduos condições materiais tidas como imprescindíveis para o pleno gozo dos seus direitos, por isso tendem a exigir do estado intervenções na ordem social segundo critérios de justiça distributiva", entendi no geral que era algo que defendia a garantia do agir governamental perante as leis que asseguravam a sociedade.
A área de Direito me agradava muito, mas em meu íntimo, não era aquilo que me interessava, mesmo assim decidi apostar no futuro, e entrei em um cursinho pré-vestibular, com bolsa integral que o colégio tivera me dado, pelos meus bons redimentos na escola.
Estudei muito, muito mesmo, apesar das dificuldades financeiras, consegui sim passar no vestibular.
Me formei, exerci a profissão de advogada por alguns anos, e depois fiz um concurso para promotora, no qual eu passei, e hoje exerco esta profissão.
Hoje, sei que sem estudo, uma pessoa não vai a lugar algum, decidi mudar minha vida, decidi mudar a minha história, fui motivo de orgulho perante minha mãe e minha família que no olhar de muitas pessoas, seriamos mais uma estatística de pobreza sem espectativa de vida alguma, mas aqui estou eu, para acabar com qualquer pré-conceito que nos acercam.

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